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Igreja Românica de Santa Maria de Águas Santas

(GUIA DO VISITANTE)

Em Jerusalém, nos princípios do Séc. XII, homens de várias raças, ostentavam sobre as suas vestes a cruz, símbolo que os irmanava na fé e no desejo de proteger o túmulo de Jesus Cristo.

Eram os homens das Ordens dos Templários, Hospitalários, Teutónicos e de S. Lázaro e, a exemplo dessas, Godofredo de Bouillon cria a Ordem do Santo Sepulcro.

Igreja de Águas Santas

Estes freires-cavaleiros, pertencendo a uma Ordem religiosa e militar, quando não oravam envergavam a armadura, pegavam na lança e na espada e montavam a cavalo para ir combater os adversários da sua religião. Espalham-se pelo mundo, fundam mosteiros e recebem de reis e poderosos doações importantes de terras e dinheiro.

O primeiro mosteiro desta Ordem do Santo Sepulcro localizou-se no atual concelho de Penalva do Castelo, cuja igreja também era denominada de Santa Maria de Águas Santas.

Quanto ao seu estabelecimento em Águas Santas da Maia, dizem alguns historiadores ter acontecido no tempo de D. Sancho I, baseados num documento de 1186.

Em 1489 o Papa Inocêncio VIII suprimiu a Ordem do Santo Sepulcro, unindo-a à do Hospital.

Em 1492, ou em 1551, realizou-se a união com a Ordem de Malta, transformando-se Águas Santas da Maia numa Comenda desta Ordem.

Para completar este pequeno apontamento histórico diga-se que todos os autores estão de acordo ao afirmar que a Ordem do Santo Sepulcro, em Portugal, apenas teve casas suas em Penalva do Castelo e na Maia.

O interesse que os estudiosos encontram nesta igreja de Águas Santas reside no facto de ser um templo românico de duas naves.

É que a planta das igrejas românicas apresentava, entre outras particularidades, a disposição simétrica das naves que, quando não se apresentavam isoladas, eram geralmente três, mais raramente cinco ou sete, mas sempre em número ímpar.

Pondo de parte as obras realizadas em 1874 pelo Padre António de Ascensão Oliveira, que consistiram na destruição de dois arcos originais apoiados num pilar central e na construção da nave Sul que modificou o aspeto que o templo tinha de mais singular, podemos começar a nossa visita à igreja de Águas Santas, iniciando-a pela fachada frontal, voltada a Ocidente, como ordenava a liturgia a partir do Sec. V.

Em primeiro lugar temos o pórtico formado por quatro arquivoltas de arcos quebrados, com toros, assentes sobre impostas, com bases áticas quase todas ocultas pelos degraus. Os capiteis contêm folhas de acanto e de lódão.

Por cima da porta uma grande janela, rasgada para melhorar a iluminação interna. Segue-se um frontão triangular, tendo no vértice a cruz de Cristo.

Do lado Norte vemos a torre, quadrada, de dois pisos, o inferior com discretas aberturas e o superior com amplas janelas sineiras.

Para Sul a nova nave, à qual, como se disse, não interessa já fazer referência.

A seguir, a parte mais interessante do exterior do monumento: a fachada Sul da abside. A data da sua construção está gravada nesta parede e lê-se, segundo uns, 1206, segundo outros 1256, da era de César, a que corresponde 1168 ou 1218 da era de Cristo, e nela interveio Miran Martiiz.

As duas pequenas janelas desta fachada são de arquivolta torada simples, de volta inteira, assentes sobre pequenas colunas de bases áticas, notando-se na anterior haver decoração dos capitéis com uma delicada renda de hexágonos.

O friso da parede Sul prolonga-se pela parede posterior, sendo interrompido por um óculo moldurado, tendo no centro uma pequena rosácea.

Na parte Oriental vemos algumas siglas, que identificarão canteiro que lavrou a pedra e, marginando-a superiormente, uma silva, ornato que voltaremos a encontrar no interior da absidíola.

É sobrepujada pela cruz patriarcal do Santo Sepulcro.

A seguir temos a sacristia, construção do século XVI ou XVII, sem valor.

Quatro modilhões, um deles com uma figura humana completa e duas meias colunas, com disposição assimétrica, semi embutidas, o que não é habitual.

O Dr. António de Sousa Oliveira, que estudou este monumento em 1956, interroga-se se não constituiria esta absidíola o templo primitivo.

Temos depois a porta Norte, com duas arquivoltas apontadas, colunas lisas, bases áticas e capiteis com decoração vegetal.

No tímpano a cruz de Malta.

Nos cachorros apoiar-se-ia outrora um alpendre.

Uma fila de modilhões, num deles a cabeça de um homem a que chamavam “a cabeça de mouro”.

Passemos ao interior.

A pequena nave do lado Norte é limitada pela torre para cujo acesso há uma porta de arco apontado.

O primeiro altar lateral ostenta uma imagem da Nossa Senhora dos Remédios que alguns especialistas apontam como a mais antiga – Século XVII?

No altar seguinte Nossa Senhora das Dores, a imagem tríplice de Sant’Ana, Nossa Senhora e o Menino, escultura que reúne maior consenso como sendo a mais antiga de todas. À direita Nossa Senhora do Carmo e à esquerda S. Brás.

Um arco de volta inteira dá acesso à absidíola. Esse arco assenta sobre colunas cujos capitéis apresentam o interno decorações de palmetas e o externo folhas de acanto.

Nas paredes e no interior do arco há pinturas murais com elementos geométricos e vegetais.

Nos ábacos com uma silva igual à que vimos na parede posterior da abside.

No altar principal desta nave antiga o Sagrado Coração de Jesus, à esquerda S. Miguel Arcanjo e à direita S. Sebastião.

A separação da nave principal é feita por um enorme arco abatido desde as obras de 1874. Antes havia dois arcos quebrados, apoiados sobre um pilar central. Dos capitéis que suportam este arco o que está junto da absidíola tem decoração vegetal. O outro escondido atrás do púlpito, tem peixes, símbolos de Cristo, separados por palmetas.

A nave principal tem cobertura em madeira, muito bem tratada por obras recentes da Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.

Sob o óculo abre-se o arco triunfal assente sobre colunas de bases áticas com garras.

O capitel do lado Norte apresenta motivos vegetais estilizados e o do Sul é figurado.

As colunas que suportam o arco da nave moderna pertencem à igreja medieval. Ambas têm bases semelhantes. A coluna Ocidental apresenta círculos envolvendo motivos vegetais e a Oriental é figurada.

As sereias do capitel, representarão um símbolo de origem pagã, que teria sido adotada pelos cristãos como símbolo da perdição da alma, para uns, da alma separada do corpo para outros.

A serpente, como tentação do pecado pode significar o mal. O pecado original foi provocado pela serpente.

Mas, segundo S. Mateus (X, 16) Jesus disse: “Sêde prudentes como as serpentes”.

As palmas são o símbolo do martírio, do triunfo, da paz e da felicidade celeste.

Os cães do outro capitel, intencionalmente pouco atraentes, não simbolizavam sempre fidelidade, mas também a inveja, o pecado e as tentações demoníacas.

Na capela-mor, a Sul as aberturas interiores que já conhecemos.

A Norte, uma abertura semelhante sobre a porta de acesso à sacristia.

No altar-mor, a cruz e o Menino Jesus no topo.

À esquerda, Nossa Senhora do O’, padroeira da freguesia, e à direita S. João Baptista.

Nas paredes laterais imagens de Nossa Senhora de Fátima, Santo António e Imaculado Coração de Maria no arco triunfal.

Na nova nave do lado Sul, que não mereceu qualquer referência dos estudiosos, no altar principal, Nossa Senhora da Soledade e do Senhor Morto, à esquerda S. Judas Tadeu e à direita Santa Luzia, advogada dos olhos e muito venerada pelos pedreiros.

Nos altares laterais, S. José e Nossa Senhora da Conceição.

Segue-se a lápide que o Padre Ascenção e Oliveira mandou colocar.

Um sarcófago medieval, que presentemente se encontra sob o soalho, tem a seguinte inscrição em caracteres do Séc. XIV:

IOANE(S) DE PARADA

ESTA SEPULTURA … e, possivelmente, E PERpetua

Águas Santas, 19 de Junho de 1999

Adaptação de Manuel Correia e extraída da obra “Santa Maria de Águas Santas – Igreja de Duas Naves”, monografia do Dr. António de Sousa Oliveira, com desenhos do Arquiteto Sena Esteves, publicada no Porto em 1957.

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